segunda-feira, janeiro 23, 2012

Parecendo que a rivalidade entre Coimbra e Guimarães é recente, em virtude do "caso N'dinga" em 1998, ela terá raízes lá para as calendas afonsinas. E fica-lhe bem ser capital europeia da cultura por um ano. Como ficará bem a Coimbra fazer pela vida e ver a sua Universidade reconhecida como Património da Humanidade. Tanto mais que, em boa verdade, sempre o foi, mesmo antes de vir a ser. Sorte é assim: merecer e ter.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

DECLARAÇÃO DE COIMBRA

A Assembleia Municipal de Coimbra aprovou, na sua última sessão, a “Declaração de Coimbra”. Esta mais não é do que a sugestão aos deputados da Nação para assumirem a iniciativa parlamentar de suspender a co-incineração de resíduos industriais perigosos.
Trata-se de parar um processo que começou por teimosia – quando tudo estava preparado para outras soluções. Prolongou-se por manifesta falta de bom senso – quando a delicadeza do tema mais o exigia. Enredou-se em questiúnculas jurídicas – quando a decisão das decisões é eminentemente política.
A queima de resíduos industriais perigosos em cimenteiras é um assunto demasiado sério para ser levado a cabo por imposição de uma maioria partidária conjuntural. Exige debate, discussão e amplo acordo. Principalmente porque há alternativas. Decididamente porque há questões de saúde pública por esclarecer.
A “Declaração de Coimbra” pretende que se devolva à política o que à política diz respeito. Estranhando-se, mas de nada se acusando, os que inesperadamente possam mudar de lado da barricada. E, já agora, não será pedir de mais que obscuros interesses não se intrometam, para que a patifaria fique à porta da casa da democracia.

sexta-feira, maio 08, 2009

Ensaio sobre a Cagança


Quando erro - e tenho errado muito - pergunto sempre: Poderia eu ter errado melhor?
José Rodrigues Miguéis

quinta-feira, abril 30, 2009

INESQUECIVEL GERAÇÃO

Quase todos os anos, por esta altura, alguém me pede para escrever sobre 1969, 1979 ou 1980. Quando não me pedem para escrever sobre o momento presente. Vou dizendo que sim – nunca mais aprendo, por mais que tente, a dizer não! – até que deixam de insistir, julgando-me um bicho-preguiça ou coisa bastante pior.
Tão simpática profusão de solicitações, eu sei, deve-se ao extraordinário facto de eu, por mero acaso, ter sido Presidente da Associação Académica em 1979 e Presidente da Comissão Central da Queima das Fitas em 1980. Os tais anos quentes em que se prepararam e retomaram as tradições académicas em Coimbra, após mais de uma década de interregno.
Daí pensarem que eu tenho alguma legitimidade para falar do luto académico iniciado em 1969. Puro engano. Por essa altura ainda eu usava uns calções por cima do joelho, da Académica só sabia pelos relatos de futebol onde jogava o meu irmão-ídolo, de então e de sempre, e preferia as brincadeiras inocentes da escola às coisas sérias do mundo. E sobretudo nunca me tinha apercebido do que era o luto. Nem do Académico nem do luto na vida.
Ao longo destes últimos trinta anos, mas a espaços, vou escrevendo, contudo, acerca da minha experiência associativa dos finais da década de setenta do século passado. Faço-o com gosto, mas confesso que cada vez mais o faço sentindo que me repito. Com o esforço de quem sente que mastiga palavras que nada nem ninguém ouve nem quer ouvir.
Cansados do passado e tristes com o presente. só estamos verdadeiramente disponíveis para mensageiros que nos tragam boas-novas de um futuro luminoso e promissor. Mas hoje e aqui faço-o com sentido do dever e profunda tristeza. Em meu nome, em nome de outros e apelando à indestrutível memória dos que deram os melhores anos da sua juventude por uma causa sem nada pedir em troca.
Há poucos dias morreu o José Rodrigues Lopes. Foi Vereador em 1990, e Presidente da Câmara Municipal de Miranda do Corvo entre 1990/1993, tendo sido também deputado municipal no início da década de 80.
Foi jurista, autarca, vice-presidente do Centro de Estudos e Formação Autárquica e coordenador de vários projectos de cooperação jurídica com os PALOP e com outros países de África. Mas o que me interessa sublinhar é que o Zé Lopes foi meu companheiro na Direcção da Associação Académica de Coimbra, nas lutas académicas de 79/80 e meu amigo.
Se o pudesse definir numa palavra seria: coragem. Coragem, enquanto, filho de gente humilde, subia a vida a pulso; coragem para trabalhar e dedicar-se a causas enquanto estudava; coragem na defesa das suas ideias e coragem quando enfrentava adversários. Sou testemunha, nestes casos, até da sua coragem física.
O Zé Lopes foi meu dedicado companheiro e foi, sempre, meu amigo. Amigo de indestrutível amizade, daquelas de nunca quebrar nem torcer, laços esses que havíamos construído hora a hora em anos que caminhámos lado a lado sem pensar jamais em desistir dos nossos ideais. Porque nesses casos é que desistir é morrer.
No último sábado, em Vila Nova (Miranda do Corvo), a sua urna estava coberta pela bandeira da AAC. Merecidamente! Nessa freguesia perdida na serra, longe da Praça da Republica e da Rua Padre António Viera, enquanto me despedia do Zé Lopes, lembrava-me de outros amigos dessa inesquecível geração, como o Joaquim Pelotte, o Nuno Barbosa Ribeiro e o António Nogueira.
Confirmam-se assim todos os rumores que amigos da onça que desprezo e inimigos de estimação que cultivo não deixam de fazer constar. São verdadeiras as notícias sobre a minha morte. Mas tão-só porque, quando me morre um amigo como o Zé, o Quim, o Nuno ou o Tó, morre-se-me uma parte inesquecível para mim.

quinta-feira, março 19, 2009

Ensaio sobre a Cagança


The loneliness of the king - Paola Congia

"O poder é como o violino. Segura-se com a esquerda mas toca-se com a direita".
Esperidão Amim

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Coimbra é aqui!*

Como eu gostaría de começar como o fez Almeida Garrett, na Sala dos Actos Grandes:
"Ergo tardia voz, mas ergo-a livre.
Ante vós, ante os céus, ante o Universo,
se os céus, se o mundo minha voz ouvirem."

O que pensamos àcerca do que é Coimbra? Esta questão da definição da identidade é recorrente em Portugal. Há mesmo quem considere que não é Português quem não se ponha, a si próprio, a pergunta - o que é ser Português? A imagem de Coimbra tem muito a ver com a forma como os outros nos olham, devendo ser o somatório de muitas imagens. E só será expressiva se todas as parcelas o forem. Nesse caso, contágios e sinergias multiplicarão o efeito de cada uma das partes e do conjunto. O importante é termos a obsessão da qualidade, como valorização de tudo quanto fazemos. Por isso, é decisivo perseguirmos uma ideia de excelência. E podemos dar-nos a essa ambição, porque para muita gente Coimbra é, de facto, excelente em várias áreas. Mas a esta cultura de qualidade deve associar-se a exigência. Qualidade sabe a direito, exigência sabe a dever.
Eu não gostaría que Coimbra fosse, como diría Alexandre O´Neill, uma "Coisa em forma de Assim!". Temos de interrogar o futuro, para o abordar com confiança. O que sabemos dele, é que reclamará de nós uma maior responsabilidade, uma autonomia de acção acrescida e um grande sentido de liberdade. A grande dificuldade do nosso tempo é que os pilares da sociedade não costumavam abanar tanto e sobretudo todos ao mesmo tempo. Estamos numa época de transição, entre um tempo caracterizado por um número finito de certezas, para outro com um número infinito de incertezas. Os mais velhos ainda se podem agarrar às antigas convicções; mas os mais novos têm de procurar permanentemente os pontos de amarração da sua vida. As políticas não devem acentuar o individualismo, a dependência em relacção ao poder e às suas prebendas, o desânimo fácil. Num mundo em que tudo se tende a uniformizar, é do nosso interesse que se estimule a afirmação da nossa especificidade. Eu bem sei que uma das nossas singularidades é o nosso universalismo. Mas, quanto mais de Coimbra formos e nos sentirmos, melhor é para nós e para os outros. A variedade é enriquecedora, enquanto a monotonia é sempre um empobrecimento.
Não resisto a lembrar-vos a Carta a Manuel de António Nobre:
"Manuel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa.
Foi Coimbra. Foi esta paisagem triste, triste,
a cuja influência a minha alma não resiste."

O quadro que nos insistem em pintar, todos os dias, é o do pessimismo e da incapacidade. Num povo que desanima facilmente como regra, para se deixar empolgar como excepção, impõe-se-nos dizer não à resignação e enfrentar o futuro com optimismo. É certo que a confiança não se obtém por decreto ou por bula, nem é obra de um solista. Mas devíamos reforçar a nossa auto-estima e pensar no que disse Miguel Torga: "a esperança nunca desespera". Temos de lutar contra a ideia de facilidade ou de facilitismo, porque corremos o risco de que se sobreponha a uma outra - a da conquista pelo esforço.
Para nós, os valores são nucleares e a mística das instituições é importante. E por isso, principalmente em Coimbra, devemos cuidar da sua identidade. O nosso adversário invisível é a velha tradição coimbrã de manter equilibrios de momento, das decisões mitigadas, dos compromissos que atrasam e das meias-medidas. À capacidade de iniciativa e de inovação não devemos associar a ideia de risco, mas antes a de oportunidade.
Por isso vos digo: sonhar é uma grande responsabilidade. Porque sonho é destino!

*Este texto, é uma parte do que eu disse na cerimónia comemorativa do dia da cidade de Coimbra, a 4 de Julho de 2005, no Convento de Santa Clara a Velha. E por se manter actual...

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

PRAIA DA GAMBOA


Caderno dos Delírios



O meu olhar
Numa folha de papel de um branco quase puro, passeio os meus olhos naus, com um lápis de carvão a dançar por entre os dedos. Com um traço se faz uma linha que com sorte pode ser rio ou mesmo horizonte. Com outro se faz um círculo, acima, que pode ser sol ou então só luar. Decidirei no fim, ao pintar.
Mas se o lápis baloiçar à deriva na mão de um poeta vai ter muito que contar. Senhor dos desertos, das fontes e de todos os amores, fará prodígios e até plantará flores. Mas, haja o que houver, para o lado de lá da linha, em princípio, o céu. Para o lado de cá, no final, só resta o mar. É tudo uma questão de cores, ao terminar.
Se riscar uma barca bela do lado de cá e arriscar uma estrela da tarde do lado de lá da linha feita horizonte, ninguém acreditará que o mar do lado de cá não ruma ao céu do lado de lá. Mas se uma gaivota voar perdida do lado de lá da linha feita horizonte, então confirma-se. Todo o mar a bailar do lado de cá beija o céu todo a rezar do lado de lá. Pronto! Vou então desenhar.
O lápis de carvão faz do traço uma linha quase recta, a meio do branco ainda virgem da folha de papel, deitada inteira e nua à minha frente. E do lado de lá do risco, do traço, da linha, descanso o olhar. Do lado de cá não sei que traçar. Um pastor a pescar baladas, canções, cantigas ao vento. O meu lápis tem voz e sabe cantar. Mas não custa tentar. Do lado de cá do risco da linha, só me resta ser onda do mar e saber navegar.
E dou cores suaves de aguarela ao céu por cima do mar, ao sol que anoitece luar, à nau que pode ser estrela ou gaivota que nasce da ponta de um lápis de carvão e sonha agora voar. A imaginação tem asas e não sabe parar.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009


"Porque é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regressar a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita do mundo."

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Maria Teresa Horta



Poema Sobre a Recusa

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado

nem na polpa dos meus
dedos
se ter formado o afago

sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras

sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado

minha raiva de
ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda

quinta-feira, fevereiro 12, 2009