Como eu gostaría de começar como o fez Almeida Garrett, na Sala dos Actos Grandes:
"Ergo tardia voz, mas ergo-a livre.
Ante vós, ante os céus, ante o Universo,
se os céus, se o mundo minha voz ouvirem."
O que pensamos àcerca do que é Coimbra? Esta questão da definição da identidade é recorrente em Portugal. Há mesmo quem considere que não é Português quem não se ponha, a si próprio, a pergunta - o que é ser Português? A imagem de Coimbra tem muito a ver com a forma como os outros nos olham, devendo ser o somatório de muitas imagens. E só será expressiva se todas as parcelas o forem. Nesse caso, contágios e sinergias multiplicarão o efeito de cada uma das partes e do conjunto. O importante é termos a obsessão da qualidade, como valorização de tudo quanto fazemos. Por isso, é decisivo perseguirmos uma ideia de excelência. E podemos dar-nos a essa ambição, porque para muita gente Coimbra é, de facto, excelente em várias áreas. Mas a esta cultura de qualidade deve associar-se a exigência. Qualidade sabe a direito, exigência sabe a dever.
Eu não gostaría que Coimbra fosse, como diría Alexandre O´Neill, uma "Coisa em forma de Assim!". Temos de interrogar o futuro, para o abordar com confiança. O que sabemos dele, é que reclamará de nós uma maior responsabilidade, uma autonomia de acção acrescida e um grande sentido de liberdade. A grande dificuldade do nosso tempo é que os pilares da sociedade não costumavam abanar tanto e sobretudo todos ao mesmo tempo. Estamos numa época de transição, entre um tempo caracterizado por um número finito de certezas, para outro com um número infinito de incertezas. Os mais velhos ainda se podem agarrar às antigas convicções; mas os mais novos têm de procurar permanentemente os pontos de amarração da sua vida. As políticas não devem acentuar o individualismo, a dependência em relacção ao poder e às suas prebendas, o desânimo fácil. Num mundo em que tudo se tende a uniformizar, é do nosso interesse que se estimule a afirmação da nossa especificidade. Eu bem sei que uma das nossas singularidades é o nosso universalismo. Mas, quanto mais de Coimbra formos e nos sentirmos, melhor é para nós e para os outros. A variedade é enriquecedora, enquanto a monotonia é sempre um empobrecimento.
Não resisto a lembrar-vos a Carta a Manuel de António Nobre:
"Manuel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa.
Foi Coimbra. Foi esta paisagem triste, triste,
a cuja influência a minha alma não resiste."
O quadro que nos insistem em pintar, todos os dias, é o do pessimismo e da incapacidade. Num povo que desanima facilmente como regra, para se deixar empolgar como excepção, impõe-se-nos dizer não à resignação e enfrentar o futuro com optimismo. É certo que a confiança não se obtém por decreto ou por bula, nem é obra de um solista. Mas devíamos reforçar a nossa auto-estima e pensar no que disse Miguel Torga: "a esperança nunca desespera". Temos de lutar contra a ideia de facilidade ou de facilitismo, porque corremos o risco de que se sobreponha a uma outra - a da conquista pelo esforço.
Para nós, os valores são nucleares e a mística das instituições é importante. E por isso, principalmente em Coimbra, devemos cuidar da sua identidade. O nosso adversário invisível é a velha tradição coimbrã de manter equilibrios de momento, das decisões mitigadas, dos compromissos que atrasam e das meias-medidas. À capacidade de iniciativa e de inovação não devemos associar a ideia de risco, mas antes a de oportunidade.
Por isso vos digo: sonhar é uma grande responsabilidade. Porque sonho é destino!
*Este texto, é uma parte do que eu disse na cerimónia comemorativa do dia da cidade de Coimbra, a 4 de Julho de 2005, no Convento de Santa Clara a Velha. E por se manter actual...
"Ergo tardia voz, mas ergo-a livre.
Ante vós, ante os céus, ante o Universo,
se os céus, se o mundo minha voz ouvirem."
O que pensamos àcerca do que é Coimbra? Esta questão da definição da identidade é recorrente em Portugal. Há mesmo quem considere que não é Português quem não se ponha, a si próprio, a pergunta - o que é ser Português? A imagem de Coimbra tem muito a ver com a forma como os outros nos olham, devendo ser o somatório de muitas imagens. E só será expressiva se todas as parcelas o forem. Nesse caso, contágios e sinergias multiplicarão o efeito de cada uma das partes e do conjunto. O importante é termos a obsessão da qualidade, como valorização de tudo quanto fazemos. Por isso, é decisivo perseguirmos uma ideia de excelência. E podemos dar-nos a essa ambição, porque para muita gente Coimbra é, de facto, excelente em várias áreas. Mas a esta cultura de qualidade deve associar-se a exigência. Qualidade sabe a direito, exigência sabe a dever.
Eu não gostaría que Coimbra fosse, como diría Alexandre O´Neill, uma "Coisa em forma de Assim!". Temos de interrogar o futuro, para o abordar com confiança. O que sabemos dele, é que reclamará de nós uma maior responsabilidade, uma autonomia de acção acrescida e um grande sentido de liberdade. A grande dificuldade do nosso tempo é que os pilares da sociedade não costumavam abanar tanto e sobretudo todos ao mesmo tempo. Estamos numa época de transição, entre um tempo caracterizado por um número finito de certezas, para outro com um número infinito de incertezas. Os mais velhos ainda se podem agarrar às antigas convicções; mas os mais novos têm de procurar permanentemente os pontos de amarração da sua vida. As políticas não devem acentuar o individualismo, a dependência em relacção ao poder e às suas prebendas, o desânimo fácil. Num mundo em que tudo se tende a uniformizar, é do nosso interesse que se estimule a afirmação da nossa especificidade. Eu bem sei que uma das nossas singularidades é o nosso universalismo. Mas, quanto mais de Coimbra formos e nos sentirmos, melhor é para nós e para os outros. A variedade é enriquecedora, enquanto a monotonia é sempre um empobrecimento.
Não resisto a lembrar-vos a Carta a Manuel de António Nobre:
"Manuel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa.
Foi Coimbra. Foi esta paisagem triste, triste,
a cuja influência a minha alma não resiste."
O quadro que nos insistem em pintar, todos os dias, é o do pessimismo e da incapacidade. Num povo que desanima facilmente como regra, para se deixar empolgar como excepção, impõe-se-nos dizer não à resignação e enfrentar o futuro com optimismo. É certo que a confiança não se obtém por decreto ou por bula, nem é obra de um solista. Mas devíamos reforçar a nossa auto-estima e pensar no que disse Miguel Torga: "a esperança nunca desespera". Temos de lutar contra a ideia de facilidade ou de facilitismo, porque corremos o risco de que se sobreponha a uma outra - a da conquista pelo esforço.
Para nós, os valores são nucleares e a mística das instituições é importante. E por isso, principalmente em Coimbra, devemos cuidar da sua identidade. O nosso adversário invisível é a velha tradição coimbrã de manter equilibrios de momento, das decisões mitigadas, dos compromissos que atrasam e das meias-medidas. À capacidade de iniciativa e de inovação não devemos associar a ideia de risco, mas antes a de oportunidade.
Por isso vos digo: sonhar é uma grande responsabilidade. Porque sonho é destino!
*Este texto, é uma parte do que eu disse na cerimónia comemorativa do dia da cidade de Coimbra, a 4 de Julho de 2005, no Convento de Santa Clara a Velha. E por se manter actual...