sábado, maio 31, 2008

INCONFIDÊNCIAS # 2

A MARATONA: é inaceitável que a Região Centro seja cada vez mais esmagada entre a macrocefalia de Lisboa e o colosso do Norte. Coimbra já percebeu que nunca mais nada lhe é oferecido de bandeja e que, portanto, o combate à tenaz do concentracionismo é uma maratona. O mesmo é dizer que não haverá dores nem fadiga que nos possam fazer vacilar ou soçobrar, por maior e mais sofrido que seja o percurso. A Região Centro é a única sem aeroporto. Portugal terá três aeroportos a Sul do Tejo - Alcochete, Beja e Faro - e um a Norte do Douro. O mínimo que agora se exige, depois da opção por Alcochete em detrimento da Ota, é a abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego civil. Por outro lado, só em Lisboa e no Porto é que os transportes são subsidiados pelo Estado. Quando a governança anuncia o congelamento dos passes sociais, obriga-nos a continuar a pagar os nossos, sem apoios estatais, e o aumento do défice dos outros. Talvez José devesse ler Cícero, quando bem disse que nem tudo o que é lícito é honesto.
ROSA DE HIROSHIMA: os vereadores do PS solicitaram aos Tribunais a perda de mandato do Presidente da Câmara, a propósito do processo EuroStadium. Fizeram-no pela calada, apresentando tarde os fundamentos jurídicos. Sem justificações politicas, tanto mais que ajudaram a aprová-lo, confirmam desorientação estratégica e comportamentos erráticos. Mas, não mais que de repente, decidem mostrar serviço. Lançaram a bomba atómica, para disfarçarem a sua tão prolongada inércia.
MEMÓRIA: é tão merecida quanto comovente, a homenagem que os amigos e os filhos de Francisco Lucas Pires lhe prestam quando são passados dez anos sobre a sua morte. Nestes dias que correm velozes fazem falta óculos de ver ao longe, como li algures a propósito deste Homem de Coimbra.
LANTERNA VERMELHA: no relatório sobre a situação social na União Europeia diz-se que, qualquer que seja a forma de medir a desigualdade de rendimentos, Portugal é invariavelmente o ultimo e onde a pobreza é mais extrema. Mesmo que se encontrem culpados e se amanhem desculpas, há números que nos envergonham.
O RISO DA HIENA: somos tocados pelas imagens que nos chegam da África do Sul. O nosso olhar pasma-se quando imigrantes são espancados até à morte ou queimados vivos, ao som do júbilo dos seus carrascos. Não são sorrisos africanos à volta de uma fogueira sob um céu azul estrelar. Há ali risos de hienas que quase igualam tamanha xenofobia ao antigo apartheid.
CABOS DE GUERRA: cada vez mais as eleições nos partidos não se ganham pelo passado apreciável ou pelo futuro promissor, por falar eloquentemente ou estar calado prudentemente. Este é o tempo em que contar espingardas, ou sejam, votos dos militantes, só quer dizer mesmo contabilizar caciques.
NOVO ENCANTO: “Depois das orações de mãos dadas no balneário, sabemos agora que Scolari "anima os jogadores" (SIC, sic) com a música de Roberto Leal. Não tem como não dar certo.” (Pedro Caeiro, no Mar salgado)