segunda-feira, janeiro 14, 2008

O IMORTAL

Há trinta anos eu pensava que era imortal. Nós passamos a vida a olhar para a frente, mas só a entendemos quando olhamos para trás. E aí, o que faz a diferença, resume-se a pessoas e emoções.
Há trinta anos eu gostaria que me tivessem falado do factor tempo. À medida que olho pelo retrovisor não me arrependo dos erros, mas das oportunidades perdidas e das palavras não ditas.
Há trinta anos eu desconhecia o sentido do equilíbrio. Só agora descobri que significa aprender a dizer não. Ensinaram-nos a dizer sim por educação. Mas dizer não, quando se quer dizer não, é o maior economizador de tempo da nossa vida.
Há trinta anos eu não sabia que devia manter-me vivo o suficiente para ter sorte. Os anos deixam rugas na pele, mas a perda de entusiasmo deixa rugas na alma. Eu gostaria que me tivessem dito para seguir os sonhos, porque o importante é sermos nós mesmos e não o que os outros esperam. Que não nos devemos impressionar se nos juram que os sonhos são imprudentes. Ora essa! Eles não foram criados para serem prudentes, mas para darem sentido à nossa vida.
Há trinta anos eu não sabia distinguir um contratempo de um revés ou de uma tragédia. A maioria das coisas más da vida são contratempos. Os reveses são mais sérios, mas corrigem-se. As tragédias são diferentes e só quando passamos por elas é que as sentimos verdadeiramente. Assim, todos os acontecimentos devem ser sempre colocados em termos de proporção e perspectiva.
Há trinta anos eu não tinha cuidado com o síndrome das pessoas cinzentas. As que se adaptam e não contestam. Mas aprendi desde então a não ter medo de me opor e ser controverso. Faço alguns inimigos, porque não me dobro ou vendo, mas faço melhores amigos. É essencial ter a coragem de arriscar, porque uma vida sem perigos leva a arrependimentos tardios. E não ter receio de ser diferente dos que nos rodeiam, porque não há respostas únicas para este mundo.
Há trinta anos disseram-me que trabalhar no duro era o mais importante, mas não me ensinaram a saborear o aroma das flores. Por isso eu vos digo: sonhem, cantem e mantenham o sentido de humor. É o que faço, para além de escalar montanhas, nadar contra a correnteza dos rios, andar descalço por sobre as folhas caídas no Outono, divertir-me neste carrossel da vida e às vezes rir-me de mim mesmo quando me olho ao espelho de manhã.
Assim sendo, tenho muitos mais questões reais, mas muito menos problemas imaginários.