quinta-feira, abril 26, 2007

O Pecado e o Sacrilégio

Ao reler os escritos de outrém deparei-me com esta afirmação peremptória: "Ir ao Lubango e não ir à Tundavala, é pior que ir a Roma e não ver o Papa." É que eu já fui a Roma e até ao Vaticano, um sem número de vezes, e nunca vi o Papa. Para mim, Roma é um deslumbramento para a vida. Roma seduz e vicia. Porque irresistível, a ela me rendo de cada vez que lá vou. E não é que eu, veramente um cabeça-de-pungo, já fui a Sá-da-Bandeira, ao Lubango e à Huila e nunca vi a Tundavala ? E dela dizem que “é como voar sem tirar os pés do chão. É uma vertigem e uma emoção. É esmagador, mete medo. É o fim do Mundo...”.
Voltarerei outras tantas vezes a Roma e concerteza cometerei o "pecado" de não ver o Papa. Mas ao tornar agora a Angola não devo cometer o "sacrilégio" de esquecer a Tundavala. Talvez aí relembre as palavras de César perante o Senado, a propósito da sua vitória sobre Fárnace, rei do Ponto: veni, vidi, vici. Mas sem pretensões de ter a meus pés o Império. Nem de rever o Arco de Constantino, o Panteão de Adriano, as fontes de Bernini, o gótico de Santa Maria Sopra Minerva, a geometria do Campo dei Fiori, a Piazza Navona, o Coliseu ou o Fórum Romano.
O que porventura me espantará na Tundavala é o que me apaixona em Roma: a banalidade do belo.
E, lá bem do alto da Tundavala, talvez reinvente a inesquecivel mulher, a descer segura as escadarias da Piazza di Spagna, tão deslumbrante quanto Anita Ekberg quando Frederico Fellini a decidiu mergulhar nas águas da fonte de Nicola Salvi. Imortalizando-a. Será?